sexta-feira, 4 de julho de 2014

David Luiz, um brasileiro



Disseram que daríamos vexame em todos os sentidos, nos estádios, nos aeroportos, nas ruas, mas não demos. Muito pelo contrário, mostramos a todos que podemos, sim, sediar o maior evento do planeta em 12 (doze!) capitais do nosso país, do concreto de São Paulo à Floresta Amazônica. Mais que isso, mostramos que podemos encantar com nossa hospitalidade, com nossa alegria, com nossa criatividade e até com nosso jeitinho quando ele não é sinônimo de malandragem, mas de jogo de cintura.

Entretanto, entre xingamentos e vaias de uma elite intolerante, faltava surgir uma atitude que demonstrasse o que temos de melhor, encarnada em um pequeno gesto de um atleta chamado David Luiz. Distante dos holofotes das estrelas do futebol-publicidade, ele acabou eleito o melhor jogador da Copa até as quartas-de-final e, nesta sexta, 4 de julho, poderia ser eleito o melhor ser humano do evento, um brasileiro digno de representar o Brasil e quem sabe um mundo capaz de enxergar a vitória não como um placar ou uma taça de ouro, mas como resultado de atitudes dignas, acima das disputas.

Enquanto todos comemoravam a vitória do Brasil sobre a Colômbia, David Luiz se aproximou do inconsolável James Rodriguez, o craque adversário cuja vida pessoal e profissional é sinônimo de superação. Abraçou-o e, apontando para ele, pediu ao público que o aplaudisse, em reverência ao seu talento, à sua luta, ao reconhecimento que ele merece independente do resultado do jogo e do fato de fazer parte do time rival. Enquanto James chorava, David lhe mostrava que a vitória não está apenas em ser o melhor no placar, mas em lutar constantemente diante de todos os desafios que a vida nos impõe.

Neymar, o garoto com alma de gingante, fraturou uma vértebra, vem aí a perigosa Alemanha e tem a Argentina no páreo. Mas tudo isso é apenas questão de competição. Nós já vencemos a Copa. Vencemos o terrorismo da mídia, vencemos o complexo de vira-latas que Nelson Rodrigues descreveu tão bem e vencemos o desafio de provar que somos, sim, um país com os mais nobres valores.

David Luiz, um brasileiro que tem orgulho de seus cabelos cacheados, deu uma aula do que é o "fair play". Mais que isso: ele mostrou ao planeta como é o Brasil dos brasileiros que labutam de sol a sol, com dignidade e respeito a todos os adversários que surgem pela frente. 

A atitude deste atleta representa a mim e a você. E a todos os que acreditam que o melhor não é aquele que se sobrepõe ao outro, mas quem tem a grandeza de reconhecer que tudo está conectado. É a evidência de que não precisamos dos melhores do mundo; precisamos, sim, dos melhores para o mundo.

(Foto: Agência Brasil)

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