sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Faltam médicos e caráter


A reação do presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, João Batista Gomes Soares, à vinda de médicos estrangeiros retrata bem a divisão do Brasil em Casa Grande e Senzala no que tange à saúde. Soares prega que não se socorram pacientes que vierem a ser "vítimas de erros dos colegas cubanos".

A declaração é de uma arrogância digna de nojo. Primeiro, porque ele se coloca numa condição de superior diante de outros profissionais; segundo, por ser xenófobo; terceiro, por caluniar os colegas estrangeiros, "prevendo" que eles errarão no ofício da medicina; quarto, porque rasga a própria ética médica, de nunca negar socorro a qualquer paciente, mesmo sendo ele um cruel criminoso.

A arrogância do doutor Soares, entretanto, está mais para recalque que para qualquer outra coisa. São palavras da "New England Journal of Medicine", uma das mais prestigiadas publicações médicas do mundo: "O sistema de saúde cubano parece irreal. Há muitos médicos. Todo mundo tem um médico de família. Tudo é gratuito. Apesar de Cuba ter recursos limitados, seu sistema de saúde resolveu problemas que o nosso não conseguiu ainda. Cuba dispõe agora do dobro de médicos por habitante que os EUA".

O Brasil tem medicina de excelência, mas para uma minoria absoluta da população, que pode pagar fortunas para ser atendida no Sírio Libanês ou no Albert Einstein. Para o restante, ficam os refugos nos convênios médicos até se chegar ao inferno no SUS. Para piorar, temos uma relação pífia de menos de dois médicos por mil (sim, MIL!) habitantes, enquanto em Cuba essa relação é de 1 médico para 148 habitantes.

Apenas um pequeno exemplo do que isso significa em resultados: mesmo com uma economia dilacerada pelo embargo comercial imposto pelos EUA (que não faz a mesma coisa com a China comunista, por exemplo), Cuba tem taxa de mortalidade infantil de 4,5 por mil nascidos, a menor da América, melhor que os EUA e o Canadá (no Brasil, a relação é de 20 por mil nascidos). A expectativa de vida da ilha caribenha chega a 79,13 anos, contra 78,64 dos EUA (e 72,44 do Brasil).

Detalhe: em Cuba, a medicina é gratuita. Para todos.

Doutor Soares, ¿Por qué no te callas?

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