sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Folha admite que papai noel não existe


> O mesmo fato, da esquerda para a direita: há duas semanas, há uma semana e hoje
Há duas semanas, a revista IstoÉ rasgou o véu beatificante que a velha mídia mantém sobre os governos paulitas faz quase 20 anos, os poupando da divulgação de denúncias de corrupção. A revista deu duas capas com gravíssimas acusações feitas pela empresa alemã Siemens, sobre formação de cartel, propina e superfaturamento em licitações do metrô e trens envolvendo caciques do PSDB. 

Nos baluartes da tradicional mídia (Globo, Estadão, Folha, Veja), nenhuma linha havia aparecido até hoje sobre o caso (a Folha foi um tipo de exceção, mas o fez de forma muito tímida e não relacionando os fatos com nenhum governador tucano, ou seja, publicou parte da verdade, coisa muito comum no jornalismo das velhas redações). Hoje, entretanto, o jornalão dos Frias quebrou o silêncio.

Atrasada, sem novidade nem muitos detalhes -e ainda com cuidados em relação ao seu partido político preferido-, mas em destaque e na manchete de capa, a Folha de S.Paulo crava, na edição de hoje: "Governo paulista deu aval ao cartel do metrô, diz Siemens" e, na reportagem,  afirma que "Documento entregue pela Siemens aponta o suposto aval do governo em favor de um acerto entre empresas".

Ontem mesmo, a ombudsman da Folha me respondeu um e-mail sobre um questionamento que fiz a ela sobre o caso. Ela me disse que a justificativa da redação da Folha para não focar o tema era "a falta de provas". Repliquei perguntando o que seria "prova" para a Folha, considerando que a IstoÉ havia revelado documentos em que se denunciavam governos tucanos, e ainda perguntei se o conceito de "prova" do jornal mudava dependendo do partido envolvido. A edição de hoje mostra que meu questionamento era pertinente, pois, mesmo tardiamente, o jornal entrou no caso.

Eis mais uma evidência de que a nova era da comunicação digital e descentralizada tem forçado a velha mídia a sair da sua zona de "conforto", onde se deita com seus pares no berço esplêndido dos interesses privados. Também podemos concluir que a quebra de monopólios nos negócios midiáticos que há no Brasil é a única forma de manter a democracia na comunicação, pois se não fosse a menor das revistas semanais ter coragem de trazer o caso à tona, as seis famílias que mandam na opinião pública brasileira certamente continuariam a fazer "ouvidos moucos" diante do escândalo.

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