quarta-feira, 7 de agosto de 2013

A violência do garoto e a nossa

> O Grito, de Edvard Munch

Perplexa, a sociedade tenta digerir o crime horrendo na Brasilândia, zona norte de São Paulo, onde uma família foi assassinada e o principal suspeito é o filho de 13 anos. Como? Por quê? De que forma? Quais as explicações das ciências comportamentais?

Apesar de todos os avanços da neurociência, explicar os labirintos da mente humana parece ainda algo bem complexo. E esse desafio não se resume a crimes como este, mas ao culto à violência que se vê por todo o lado, não causando espanto algum da sociedade -pelo contrário, gerando interesse, curiosidade, audiência e prazer.

Segundo uma testemunha, o garoto teria revelado um plano para matar a família e seu sonho de ser matador de aluguel. Pode-se perguntar "Mas de onde ele teria tirado tal ideia absurda?". E a resposta talvez esteja na TV da sua casa, numa locadora, nas telas do cinema, na internet, nos games. De repente, ele levou a sério o filme "Sr. e Sra. Smith", em que o casal mais lindo e desejado da mídia faz da matança uma glamourosa carreira profissional. Ou quem sabe o menino tenha anotado como lição de casa os planos sórdidos das novelas da Globo ou dos desenhos animados, em que quanto mais se desgraça a vida do próximo, melhor.

Não estou aqui vitimizando o garoto, cujo ato (se comprovado, pois ele ainda é só suspeito!) é digno das mais pesadas punições. Mas é bom lembrar que vivemos num mundo em que a violência está por todo o lado, como o maior artifício para fisgar nossa atenção. Está na ficção, no noticiário, nas propagandas. E isso não é um fenômeno recente, porque na Antiguidade ver feras devorando cristãos era um programão, assim como na Idade Média a melhor novela era um "herege" arder em chamas em praça pública. Evoluímos em leis e direitos, mas continuamos a cultuar atos violentos.

Se o menino da Brasilândia for mesmo o responsável por esses crimes, sua atitude foi também um tipo de materialização de toda a loucura simbólica à sua volta. É como um bizarro exercício de semiótica, em que símbolos ganham significado. Sua monstruosidade factual, portanto, é também da sociedade, pois retrata a ausência de todos os valores que circundam o respeito à vida, assim como vazio de sentido às nossas escolhas e à nossa existência.

Ou tiramos a violência do altar ou deixamos de ser hipócritas ao nos espantar quando ela se materializa.

2 comentários:

  1. Sim caro professor em que mundo esse garoto vivia, caso seja verdade, o que os pais dele pregavam dentro de casa? Mistérios de uma vida em quatro paredes.

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  2. Acho intrigante quando alguém diz:'Eu não sou exemplo prá ninguém!"....Somos exemplos para nossos filhos e alunos,QUERENDO ou NÃO!Tudo que emitimos se transformam em mensagens de aprendizagem!!Isso nos chama atenção para a responsabilidade que temos em nossas mãos ao educar!

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