sexta-feira, 26 de julho de 2013

A transubstanciação do jornalismo

A manchete em transe do G1 e, no detalhe, os ovos à Santa Clara

A pauta papal pela mídia brasileira já beirava algo muito maior que a razão, mas o G1 transcendeu. O site da Globo entrou em transe total, liberou geral, trocou a objetividade diante dos fatos pela transubstanciação do jornalismo. 

Numa manchete na manhã desta sexta, crava o site dos Marinho: "Sol volta a aparecer no Rio após pedido especial do papa". A reportagem ainda explica como se deu a mudança meteorológica: o pontífice pediu ao prefeito da cidade uma cesta de ovos, que foi enviada a uma freira para que fosse colocado aos pés de Santa Clara. "O pedido foi prontamente atendido", conclui o G1, que só faltou publicar aspas de São Pedro. Fiat Lux!

Nada contra a fé. Muito pelo contrário! Esse lado humanista de um papa franciscano, a defesa dos mais necessitados como uma missão divina (que faz lembrar a Teologia da Libertação, movimento que engajou a Igreja em grandes causas sociais na América Latina, mas foi massacrada por papas anteriores), é uma primavera que se anuncia na Santa Sé. Entretanto, desde o Iluminismo, a razão e o conhecimento científico passaram a nos ajudar a compreender os fenômenos naturais e nos libertaram das inquisições medievais.

O dogma levado ao radicalismo já causou dor, sofrimento e morte à humanidade. Por exemplo, na Idade Média, mulheres mais leves que uma Bíblia gigante usada como lastro eram condenadas à morte por bruxaria pelo Tribunal do Santo Ofício, pois se acreditava que as bruxas ganhavam uma "leveza sobrenatural".  Canhotos eram tidos por demoníacos, cientistas eram assassinados, em nome de Deus, por descobrir a natureza, entre outros tantos casos.

A era iluminista libertou a humanidade das trevas do obscurantismo escravizante e isso não significa uma postura contra a fé. Conhecimento, emoção e crença podem mais contribuir uns com os outros do que se excluírem. Portanto, em pleno século 21 imputar ao papa feitos sobrenaturais é regressar a um tempo em que se queimava gente viva justamente por discordar disso. 

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